Mais natureza, menos religião. Por dentro de um casamento celta
Quase toda cerimônia de casamento tem um roteiro predefinido e bem ensaiado. Entre tantas passagens do ritual, a tradicional entrada da noiva, a entrega de sua mão para o noivo e a bênção final, acompanhada dos votos de amor e fidelidade, fazem parte do script. Porém, muitos noivos buscam sair da tradição religiosa e fazer uma cerimônia personalizada, sem necessariamente deixar a espiritualidade de lado.
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De uns anos pra cá, vem se popularizando o chamado Casamento Celta, que ficou famoso por ser realizado principalmente fora de igrejas, em lugares como montanhas, praias e outros menos paradisíacos, como restaurantes ou os habituais salões de festa. A busca por uma união diferente é o que motiva diversos casais a procurarem esse tipo de cerimônia, que de celta não tem muita coisa.
A sacerdotisa, psicóloga e coaching Renata Zanzini Madeira (Brigid) é uma das cerimonialistas dessa vertente no Brasil, e acredita que o termo "celta" é polêmico. "É complicado chamar de Casamento Celta. A cultura acabou ficando muito conhecida e atrativa comercialmente, mas se pararmos para pensar a fundo, uma cerimônia celta tem suas regras e seria necessário um sacerdote druida (de tradição celta) para celebrá-la", acredita.
O povo celta é responsável por uma cultura muito antiga do oeste da Europa e tem ensinamentos relacionados aos elementos da natureza. Ainda hoje, no mundo inteiro, existem praticantes do Druidismo, que seguem a cultura à risca como religião. Já dentro da tradição do casamento, a nomenclatura ficou conhecida no Brasil devido ao "handfasting", que significa "atar as mãos", quando os noivos têm as mãos enlaçadas por fitas no altar.
Como funciona?
A sacerdotisa, que segue a Bruxaria Natural, diz que chama seu ritual de Casamento Sagrado, e faz questão de sentar com os clientes para explicar todos os elementos da cultura celta e outros panteões que utiliza, além de conhecer profundamente a história do relacionamento. Nas cerimônias, existe um altar com representações dos quatro elementos — terra, fogo, água e ar — e os outros objetos vão de acordo com a história do casal.
"Nenhum casamento que realizo é igual ao outro, os casais têm liberdade para criar a cerimônia de acordo com o que desejam", conta. O que diferencia a cerimônia de um casamento tradicional é o fato de ser personalizável. Os noivos podem entrar sozinhos ou acompanhados, os padrinhos não necessariamente precisam estar agrupados em pares e representam bênçãos específicas através de presentes mágicos. "São chamados de Anam Cara, 'irmão de jornada' em celta."
Tudo começa com o benzimento do casal dentro de um círculo mágico, traçado no chão por Renata com elementos como ervas, todos explicados durante o rito para que os convidados não fiquem por fora do que está acontecendo. "É para que os noivos iniciem esse novo momento protegidos, só então a cerimônia realmente começa. Tudo que é utilizado ou dado pelos padrinhos é consagrado na lua correta, levando em consideração conceitos pagãos e celtas", explica.
Se perguntou sobre a troca de alianças? Ela é comum, mas antes de acontecer é feito o enlace celta, citado anteriormente no texto. "Peço para que os noivos fiquem de frente um para o outro, formando com as mãos um símbolo do infinito. Então, passo um cordão entre as mãos dos noivos dando três nós e recito uma benção irlandesa."
Para quem é?
A cerimonialista conta que 70% das pessoas que procuram pela Cerimônia Sagrada apenas buscam algo diferente, que não fale de vínculos religiosos, mas de espiritualidade independentemente de rótulos. "A espiritualidade de todo mundo cabe dentro desse ritual e a maior parte das pessoas busca isso, não a cultura celta em si. Essa é a grande verdade."
Não existem pré-requisitos ou preceitos para os noivos, já que a Cerimônia Sagrada traz elementos celtas mas não a tradição em si. "Basta entender que a espiritualidade está acima de tudo, que as religiões têm limitações e regras que nem sempre se aplicam a todas as partes envolvidas", diz Renata. Isso evita constrangimentos inclusive para convidados que poderiam deixar de frequentar o ritual por ser de religião diferente.
"Uma das coisas mais bonitas é entender que a espiritualidade é muito particular de cada um. O sagrado está justamente em respeitar o outro. O casamento é um dia para celebrar o amor, a fé e a espiritualidade, e a Cerimônia Sagrada acolhe todo tipo de amor, inclusive homoafetivo. Já fizemos até casamento trans. Sabemos que muitas tradições não acolhem esse tipo de união, mas o que fazemos é uma cerimônia que respeita a forma de ser e de amar de cada um", finaliza Renata.
(Por Camila Eiroa, em colaboração para a Universa)
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